Membros da PanAmazônia debatem alternativas para a região

Membros da PanAmazônia debatem alternativas para a região

O Dia Internacional da Biodiversidade serviu como motivo para encontro online que debateu alternativas para preservação da Região Amazônica

No Dia Internacional da Biodiversidade, celebrado no sábado, dia 22 de maio, especialistas da PanAmazônia e que fazem parte da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (SDSN Amazônia), secretariada pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS), apontam conscientização individual e ações coletivas como alternativas para conservação da diversidade biológica na Amazônia.

A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) há aproximadamente 30 anos, com o objetivo de conscientizar a população sobre a necessidade de conservar a diversidade biológica em todos os ecossistemas, além de contribuir com o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13, que é a “Ação contra a mudança global do clima”, ODS 14 “Proteger a vida marinha” e ODS 15 “Vida terrestre”.

Agentes ativos quando o assunto é a questão socioambiental da Amazônia e do mundo, estudiosos e pesquisadores de diversas instituições, [CR1] que fazem parte da PanAmazônia refletiram sobre os principais desafios e retrocessos na construção de um planeta mais sustentável, apontando possibilidades de alternativas para o problema.

Ponto de Partida

É quase impossível falar sobre desenvolvimento sustentável sem citar acontecimentos históricos com os quais foram delineadas as principais questões sobre o desenvolvimento da região amazônica e da Amazônia como eixo central das questões ambientais no mundo todo.

Na avaliação do professor Camilo Torres Sanches, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), que também é um dos coordenadores na região da fronteira Brasil-Peru de um projeto voltado à agrobiodiversidade, três acontecimentos marcam a história do desenvolvimento da região, e a trazem para o atual ponto em que se encontra.

“A Convenção da Biodiversidade estabeleceu como seria o plano de gestão, manejo e preservação da biodiversidade biológica. O Protocolo de Kyoto, que depois virou Conferência de Paris, trata sobre a questão da mudança climática e do aquecimento global do planeta. E o desenvolvimento sustentável como uma resposta à questão da degradação da diversidade biológica. Esse conjunto de iniciativas eram indução de projetos, não foram levados a uma política pública de conservação e desenvolvimento da diversidade biológica na Amazônia”, destacou.

Queimada na Amazônia

O professor ainda faz uma viagem por uma série de acontecimentos que ele descreve como ‘retrocesso na conservação da biodiversidade’: a política de industrialização do país, o incentivo à produção e aquisição de automóveis, a abertura de estradas, o desmatamento, e o extrativismo de madeira.

“A gente deve entender que a destruição florestal não começa pela destruição da floresta, começa com a destruição do modo de vida tradicional amazônico, com a destruição da agricultura familiar e florestal, com a destruição da roça, , com a destruição da organização das comunidades locais, pelo avanço da urbanização, dos modos de vida do sul e sudeste do Brasil, que trazem uma visão de mundo que não é compatível com à moradia na floresta Amazônica”, comentou.

A preservação de comunidades amazônicas e de suas formas de sociedade e cultura foram apontadas pelo especialista como alternativa para preservar a biodiversidade.

Agenda de Conservação

Por falar em biodiversidade, vale lembrar que o bem-estar de povos de comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas só é possível com o acesso à biodiversidade e ao uso sustentável desses recursos. Diante disso, o Instituto Peabriu, organização que atua na valorização da sociobiodiversidade, defende que é preciso haver uma agenda de conservação, que inclua diversos povos. 

“O seringueiro não é apenas um coletor de seringa. Ele é, ao mesmo tempo, um pescador, um caçador, um coletor de outras castanhas, frutas, raízes, o que for. A primeira questão para mim é que o próprio usuário, as comunidades tradicionais – nós estamos falando de mais de um milhão de famílias -, eles reconheçam essa importância e comparam isso, por exemplo, com o uso da farmácia que não é a farmácia popular, a farmácia que vem da floresta”, disse o Diretor Geral do Instituto Peabiru, João Meirelles.

Diretor geral do Instituto Peabiru, João Meirelles

Na construção de uma preservação da biodiversidade, segundo ele, o primeiro passo é a tomada de consciência, que deve começar, principalmente, pelos jovens.

“Não podemos aceitar a qualidade da merenda escolar da maior parte do interior da Amazônia, que é sofrível. Sem contar os problemas que existem no processo de compra e licitação, mas a qualidade em si e o que se oferece, na maior parte das vezes vem do centro-sul do país, não é produzido na região e não é de qualidade”, comentou.

Várias frentes de atuação

O desenvolvimento e a preservação da Amazônia vêm sendo trabalhados em diversas frentes de atuação.

De acordo com a pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia (Inpa) e membro do Painel de Cientistas para Amazônia, Camila Ribas, parte do conhecimento é a base para estabelecer políticas que levam em conta a conservação da região. E só assim, chegaremos a um patamar aceitável.

“Infelizmente o conhecimento tem sido sistematicamente ignorado na atual gestão do país. Dentro do Inpa há projetos muito importantes para colaborar com a conservação da Amazônia, como o grupo de pesquisa liderado pelo Dr. Phillip Fearnside que vem continuamente denunciando a destruição da Amazônia e propondo soluções. Também há os programas de monitoramento a longo prazo, que documentam mudanças na biodiversidade ao longo dos anos, uma tarefa que só é possível para um Instituto baseado no meio da floresta, como o Inpa”, comentou.

Há ainda estudos sobre efeitos de grandes obras de infraestrutura, como barragens hidroelétricas, sobre a biodiversidade especializada em ambientes únicos, como as várzeas e igapós, e ao mesmo tempo temos traduzido esse conhecimento em Notas Técnicas e livros de divulgação. 

“A Amazônia ainda é muito pouco conhecida e pesquisa voltada para estimar esses impactos é essencial. Sem isso estaremos destruindo um ambiente que presta diversos serviços à sociedade sem nem entender como ele funciona”, concluiu.

Valorização da Amazônia

Os altos indíces de desmatamento da Amazônia, além de invasão de terras e outros problemas de exploração ilegal dos recursos naturais desvalorizam a conservação da biodiversidade da região. Há uma perda da biodiversidade, principalmente em decorrência dessa desvalorização. Esse tipo de ação vem causando efeitos fatais em termos de biodiversidade e conservação na Amazônia, a médio e longo prazo.

Ccoordenadora da ONG peruana Amazónicos por La Amazonía (Ampa Perú), Karina Pinasco

“Se chegarmos a 20-25% de desmatamento chegaremos a um ponto sem volta. As consequências serão fatais. A mudança climática também está afetando, estamos em uma crise de água. Na região amazônica, temos uma crise hídrica na época da seca. Deslizamento de terra e morte de pessoas. Muitas safras são perdidas devido às mudanças climáticas”, disse a coordenadora da ONG peruana Amazónicos por La Amazonía (Ampa Perú), Karina Pinasco.

A especialista cita a aplicação de políticas públicas voltadas a essas problemáticas como solução para reduzir os impactos ambientais e, assim, aconteça uma valorização da Amazônia.

“As políticas públicas devem estar focadas na valorização e manutenção das florestas em pé e dos ecossistemas aquáticos. Políticas públicas ruins estão afetando muito. A bacia amazônica é uma e temos que fazer um esforço para conservar a biodiversidade. É uma questão de tomar decisões”, concluiu.

Biodiversidade coletiva

A preservação de uma região não se faz sozinha. São vários agentes sociais, de forma individual ou coletiva, mas o fato é que a coletividade é quem faz a diferença. Uma Amazônia mais sustentável só é construída por muitas mãos.

“As ações devem ser diferenciadas para cada tipo de Amazônia e não existe um modelo ou solução única para cada local. Envolva todos os atores da sociedade. Que haja acesso à educação intercultural das pessoas”, destacou o professor da Universidad Regional Amazónica (Ikiam), Hugo Mauricio Ortega Andrade.

Além disso, o professor defende o acesso à educação em larga escala, e avalia que só por meio da difusão do conhecimento é que essa Amazônia pode ser construída.

“É necessário que mais alunos amazônicos sejam formados na universidade e sejam atores-chave para a região, aumentando assim os talentos da Amazônia. Precisamos de educação ambiental para que as pessoas conheçam a importância da biodiversidade amazônica”, finalizou.

Em uma data onde todas as ações devem se voltar aos cuidados e ensinamentos sobre biodiversidade amazônica, o que se vê são inúmeros desafios, processos históricos que constituem marco, avanço ou retrocesso. E que a história dessa Amazônia como conhecemos, não muda, mas o futuro, está nas mãos de cada um de nós.

Para concluir acredito que falou que ações práticas as pessoas que estão lendo o artigo podem realizar para contribuir com a conservação da Amazônia

Sobre a SDSN Amazônia

A SDSN Amazônia é uma rede vinculada à ONU e secretariada pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) que visa integrar os países da Bacia Amazônica, engajando universidades, organizações não governamentais, centros de pesquisa, instituições governamentais e privadas, organizações multilaterais e sociedade civil para promover a resolução prática de problemas para o desenvolvimento sustentável da região. Mais informações sobre a rede estão disponíveis no site: www.sdsn-amazonia.org.

Com informações e fotos da assessoria

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