Livro enfoca sociedade e cultura na Amazônia

Livro enfoca sociedade e cultura na Amazônia

Professor da USP, Willi Bolle lançou um livro sobre sociedade e cultura na Amazônia a partir da interpretação da obra do escritor paraense Dalcídio Jurandir

O professor Willi Bolle lançou seu novo livro “Boca do Amazonas: Sociedade e Cultura em Dalcídio Jurandir”, editado pela Edições Sesc, em que propõe uma interpretação da obra do escritor paraense Dalcídio Jurandir (1909-1979), apresentando o “Ciclo do Extremo Norte” – composto por dez romances publicados de 1941 a 1978 – como forma de compreender melhor a sociedade e a cultura da Amazônia.

Bolle é professor titular de Literatura da Universidade de São Paulo e crítico literário, conhecido no Brasil e no exterior pelo estudo de autores como Guimarães Rosa e o filósofo Walter Benjamin, de quem organizou a edição das “Passagens” para a língua portuguesa.

O encontro com a obra de Dalcídio se deu a partir de Belém, onde o autor esteve diversas vezes, a fim de ministrar palestras e cursos sobre Walter Benjamin. Pela mesma razão, passou uma temporada na cidade como professor visitante do Núcleo de Estudos Amazônicos (Naea), na Universidade Federal do Pará.

Seu interesse pelo escritor paraense surgiu em 1998, após a participação na banca de mestrado de Paulo Nunes, também professor de literatura e um dos maiores especialistas em Dalcídio.

“Boca do Amazonas”, o romance em série ou romance-fluvial dalcidiano acompanha o caminho de formação de Alfredo, alter ego do escritor. O jovem protagoniza o ciclo, dos 10 aos 20 anos de idade, durante a década de 1920, marcada pelo declínio da economia da borracha, pela estagnação e por tentativas de reestruturação. Por sua riqueza de detalhes e da caracterização da região através da linguagem, da memória, da imaginação e das indagações das personagens, trata-se também de um romance social, com elementos etnográficos.

Optei por estudar a Amazônia à luz da obra de Dalcídio Jurandir porque seu ciclo de dez romances, com cerca de três mil páginas, oferece uma apresentação da história cotidiana e da cultura da Amazônia que é exemplar em termos de amplitude e fidelidade aos detalhes”, justifica Bolle logo na introdução de “Boca do Amazonas”.

Como se sabe, a Amazônia, apesar de ocupar 60% do território brasileiro, desperta um interesse apenas marginal na grande maioria da população, inclusive nos intelectuais, e também na mídia. Com isso a proposta de fazer conhecer essa região – que, segundo Euclides da Cunha, situa-se à ‘margem da história’ do Brasil – por meio de uma obra que também ficou à margem, a saber, do cânone literário, tem algo de paradoxal, mas ao mesmo tempo, de homeopático”, prossegue o autor.

O escritor paraense Dalcídio Jurandir

Segundo o autor, é possível destacar três aspectos acerca da contribuição do ciclo romanesco de Dalcídio Jurandir para o conhecimento da Amazônia: 1) a descrição da cultura cotidiana dos que vivem na periferia da sociedade; 2) o engajamento por uma educação de qualidade para todos; 3) e a importância dada às falas dos habitantes da Amazônia. “O romancista captou na boca do povo dizeres significativos, que são documentos da memória cultural e do desejo dessas pessoas de se tornarem sujeitos da História”, enfatiza.

“Com tudo isso, o retrato exemplar da Amazônia apresentada no ‘Ciclo do Extremo Norte’ estimula também a reflexão sobre os problemas sociais e educacionais de todo o Brasil”.

Para Willi Bolle, o estudo de Dalcídio completa uma trilogia iniciada em 1994 com “Fisiognomia da Metrópole Moderna”, cuja terceira edição acaba de ser publicada pela EdUSP, e continuada em 2004 com “Grandesertão.br: o romance de formação do Brasil”, também em fase de relançamento.

Sobre Willi Bolle

Vindo de Berlim, Willi Bolle conta que chegou ao Brasil em 1966, aos 22 anos, entusiasmado pela leitura de “Grande Sertão: Veredas”. A ideia era conhecer o país à luz do romance. Esteve pessoalmente com Guimarães Rosa no mesmo dia do desembarque da viagem de navio que o transportou do porto de Hamburgo ao Rio de Janeiro.

Um ano após a viagem, em 1967, veio de ônibus de São Paulo até a capital paraense pela recém-inaugurada rodovia Belém-Brasília, para realizar o desejo de conhecer a Amazônia. Em Belém, encontrou o filósofo Benedito Nunes, cujos estudos sobre Guimarães Rosa conhecera através de jornais. Antes de retornar, esteve na Serra do Tumucumaque, localizada na fronteira entre o norte do Brasil e a região sul do Suriname e da Guiana Francesa, passou por Manaus, antes de retornar a São Paulo para seguir com os estudos do romance que o motivou desde a graduação em Literatura.

Willi Bolle durante temporada na Amazônia

Mais de duas décadas depois recebeu convite para realizar um curso sobre Walter Benjamin no então Departamento de Filosofia da Universidade federal do Pará, retomando o contato com acadêmicos da capital paraense.

Naturalizado brasileiro, o professor segue, a partir de seus estudos, diálogos, participação em eventos e bancas, colocando Dalcídio em contato com outros autores e a capital paraense em diálogo com outras cidades, como São Paulo e Berlim.

Com informações da assessoria

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