Pode parecer contraditório mas a região que concentra a maior disponibilidade hídrica do país enfrenta dificuldades de acesso à agua em meio ao avanço da crise climática
O distrito de Alter do Chão, no município de Santarém (PA), foi palco de um importante seminário promovido pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), reunindo gestores públicos, pesquisadores, ribeirinhos, extrativistas, povos tradicionais e beneficiários de programas sociais para debater um paradoxo que marca a realidade amazônica: os desafios do acesso à água em uma região que concentra a maior disponibilidade hídrica do país.
O Memorial Chico Mendes teve participação ativa no evento como uma das principais organizações articuladoras na região, mobilizando mais de 40 pessoas entre beneficiários, técnicos e representantes de organizações da sociedade civil que atuam diretamente nos territórios amazônicos.
“Mobilizar os beneficiários para o evento é de suma importância para a visibilidade. Além da possibilidade de troca de experiências, eles estão envolvidos na base da política pública. Puderam aprender sobre saneamento básico, conhecer melhor as tecnologias sociais e logísticas, além de entender como a política pública chega aos seus territórios”, destacou Willians Santos, engenheiro civil do MCM e coordenador do projeto.

Também participaram executoras parceiras como a Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC), Instituto Vitória Régia (IVR), Associação de Desenvolvimento Agrícola Interestadual (ADAI), Instituto Desenvolver e a Associação de Mulheres do Baixo Cajari (AMBAC). Todas desempenham um papel fundamental na implementação de tecnologias sociais voltadas ao acesso à água e à segurança alimentar na região.
Desafios e vivências
A programação contou com uma série de painéis que abordaram, sob diferentes perspectivas, os múltiplos aspectos que envolvem o acesso à água na Amazônia. Um dos primeiros debates tratou das especificidades territoriais da região, a partir da análise do comportamento hídrico de suas bacias e da vivência de povos indígenas e comunidades tradicionais, evidenciando os desafios geográficos, políticos e sociais que afetam diretamente a disponibilidade de água potável.
O diretor-geral de Programas de Acesso à Água do MDS, Vitor Santana, ressaltou a importância do evento como espaço de construção coletiva.
“As pessoas pensam que, por estarmos na maior bacia hidrográfica do mundo, o acesso à água é ilimitado. A realidade é muito diferente. Esse evento é uma oportunidade para debatermos as políticas públicas desenvolvidas na região e fortalecermos parcerias com organizações como o Memorial Chico Mendes e o Projeto Saúde e Alegria. Precisamos qualificar e ampliar essas ações para alcançar a universalização do atendimento”, afirmou.

Outro momento relevante abordou as tecnologias sociais como instrumentos de adaptação climática, promovendo a troca de experiências entre a Amazônia e o Semiárido — regiões com contextos distintos, mas igualmente impactadas pela escassez hídrica em diferentes aspectos.
Depoimentos de beneficiários das tecnologias sociais implementadas em comunidades da floresta trouxeram ao debate a força das experiências vividas, revelando o impacto transformador de ações como o Programa Cisternas, que tem garantido água de qualidade para o consumo e para a produção de alimentos.
No último dia do encontro, os participantes realizaram uma visita imersiva à Aldeia Pajurá, na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, onde conheceram de perto o Sistema Pluvial Multiuso Comunitário — tecnologia social já implementada no território. A atividade teve como objetivo proporcionar uma vivência prática aos futuros beneficiários das cisternas, promovendo a troca de saberes entre comunidades e a valorização de soluções desenvolvidas a partir da realidade local.

Durante a visita, estiveram presentes novos beneficiários e organizações executoras selecionadas por meio de um edital financiado pelo Fundo Amazônia, voltado para a ampliação do Programa Cisternas na região, em complemento aos recursos do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
Sanear Amazônia
O programa visa promover o acesso à água para consumo humano em comunidades extrativistas da Amazônia, por meio das tecnologias sociais “Sistema de Acesso à Água Pluvial Multiuso Comunitário” e “Sistema de Acesso à Água Pluvial Multiuso Autônomo”.
A proposta assegura o abastecimento de água potável para famílias extrativistas de forma direta, com impacto indireto ampliado pela replicação das melhores práticas para a totalidade da população nas áreas atendidas.
Memorial Chico Mendes
Fundado em 1996 pelo CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas), o Memorial Chico Mendes é uma organização sem fins lucrativos dedicada a preservar o legado do ativista ambiental e promover projetos sociais e ambientais na Amazônia. Por meio de diversas iniciativas, busca contribuir para o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das comunidades extrativistas.
Com informações da assessoria e fotos de Rebeca Vilhena/diculgação