Graziela Santos, a primeira arqueira indígena a representar o Brasil em competições mundiais, acumula vitórias e tem o objetivo de chegar aos Jogos Olímpicos
O tiro com arco faz parte da vida da arqueira indígena amazonense, Graziela Santos, desde a infância quando brincava com os irmãos nas margens do Rio Cuieiras, na comunidade Nova Kuanã, zona rural de Manaus, onde nasceu. Indígena da etnia Karapãna, batizada com o nome Yaci, que significa Lua, ela nem imaginava que o gosto pela brincadeira um dia a levaria a ser a primeira mulher indígena a compor a Seleção Brasileira na modalidade tiro com arco, representando o país em campeonatos mundo afora.
A trajetória de Graziela no esporte começou em 2013, quando ela passou a integrar o projeto de Arquearia Indígena da Fundação Amazônia Sustentável (FAS). A iniciativa tinha um objetivo ambicioso na época: levar um atleta indígena para as Olimpíadas Rio 2016. Graziela foi a única menina entre os 12 jovens selecionados pelo projeto.
“Fomos para Manaus fazer a transição do arco nativo para o arco olímpico. Em 2014, fomos morar na Vila Olímpica, na capital do Estado, para sermos atletas e fazer faculdade. O projeto queria que a gente estudasse, para que tivéssemos uma profissão quando encerrássemos a vida de atleta. Consegui uma bolsa para cursar Ciências Contábeis e comecei a treinar tiro com arco e fazer faculdade junto”, lembra Graziela.
No primeiro ano de treino, Graziela e a equipe foram para o campeonato brasileiro de base, onde a atleta conquistou a medalha de bronze no individual feminino. No final de 2015, ela repetiu o feito, conquistando o 3º lugar em sua categoria, além da prata na categoria de dupla mista ao lado do parceiro de equipe, Nelson Moraes. A dupla foi campeã na categoria no Campeonato Brasileiro de Tiro com Arco em 2016.
“Com dois anos de treinamento, nós conseguimos ir para a seletiva das Olimpíadas”, relata Graziela. A oportunidade de representar o Brasil não veio, mas o futuro reservava outros sucessos para a arqueira indígena. Em 2018, ela se tornou a primeira mulher indígena a integrar a seleção brasileira e representar o país nos Jogos Sul-Americanos. E fez bonito, conquistando o ouro no individual feminino e por equipe.
Abrindo caminhos
O pioneirismo de Graziela no tiro com arco é importante para inspirar outros jovens indígenas a ingressarem no esporte. “Sinto que sou uma representante que está abrindo caminhos para os povos indígenas e para jovens que desejam estar no meio do esporte ou em qualquer outra área. Todo ser humano é capaz, resiliente e pode se aperfeiçoar ao longo da caminhada. Eu sou um exemplo que mostra aos jovens indígenas que podemos conquistar nossos objetivos com coragem e dedicação”, afirma.
Apesar das dificuldades como a adaptação à modalidade esportiva, a falta de incentivos financeiros para competir e a ausência de espaços adequados de treinamento, Graziela acredita que o esporte vale a pena e lhe trouxe vitórias além do campo de tiro, como a oportunidade de cursar uma graduação.
“O projeto de Arquearia Indígena da FAS foi muito importante nesse sentido. Sem ele, eu não teria conhecido o tiro com arco como esporte e não estaria aqui hoje. Ele é uma porta que se abre para nós indígenas e facilita a caminhada para quem quer estudar, ser atleta e conhecer outros lugares, culturas e pessoas”, diz.
Graziela não quer parar por aqui. “Meu objetivo é chegar nas Olimpíadas e trazer a medalha de ouro para o Brasil, para os povos indígenas e para o Amazonas”, finaliza.
Projeto de Arquearia Indígena da FAS
Implementado pela FAS desde 2013, o projeto de Arquearia Indígena tem o objetivo de valorizar a cultura indígena e incentivar a autoestima de jovens indígenas ao promover oportunidades de crescimento e desenvolvimento através do esporte.
Atualmente, o projeto beneficia quatro atletas de duas comunidades indígenas do Amazonas e visa dar condições de treinamento e preparação para os participantes.
Com informações e fotos da assessoria da FAS