Uma das principais lideranças indígenas do Brasil, Kopenawa participou da programação de defesa de três dissertações de educadores Yanomami, no Amazonas
Xamã, liderança política e presidente da Hutukara Associação Yanomami, Davi Kopenawa participou da programação que celebrou a defesa de três dissertações de educadores Yanomami e a inserção de saberes tradicionais no Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
O evento aconteceu em Manaus, no início da semana, iniciando com o encontro “Davi Kopenawa: Palavras de um xamã Yanomami”, e seguiram com as três defesas dos educadores Yanomami , no Auditório Rio Solimões, no setor Norte da Universidade Federal do Amazonas.

Davi Kopenawa é uma das principais vozes indígenas do Brasil. Xamã, liderança política e presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), ele é reconhecido internacionalmente pela defesa dos direitos indígenas e proteção da floresta amazônica. Coautor das obras “A Queda do Céu” e “O Espírito da Floresta”, também detém o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Roraima (UFRR) e pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Segundo o coordenador do PPGSCA, Caio Augusto Teixeira Souto, o encontro representa um marco para a educação indígena na Amazônia. “Este evento representa um momento histórico para a comunidade acadêmica e para a sociedade amazonense. Pela primeira vez, o xamã e intelectual Davi Kopenawa Yanomami participa como arguidor em bancas de mestrado, ocupando formalmente essa posição em uma universidade”, comenta.
Souto reforça que as pesquisas são uma forma de valorização, preservação e transmissão desses conhecimentos às próximas gerações. “Eles não querem mais se restringir às áreas tradicionalmente associadas às suas trajetórias, como antropologia ou pedagogia. Eles desejam ocupar também a medicina, a geologia, as artes, a matemática, a linguística. E os programas interdisciplinares [de pós-graduação], como o Sociedade e Cultura na Amazônia, são caminhos fundamentais para essa travessia”, pontua.
“Mais do que formar mestres, o que se constrói aqui é um projeto de universidade pública verdadeiramente amazônica plural e em condições de acolher todos, buscando reduzir as assimetrias históricas”, destacou o coordenador do PPGSCA.

A banca contou ainda com professores especializados no assunto, incluindo o Dr. Paulo Roberto de Sousa, do povo Tremembé. “Essa composição reforça o compromisso com a transversalidade, o diálogo entre saberes e a valorização da diversidade epistêmica”, complementou Souto.
Mestrandos indígenas
e saberes tradicionais
Os três educadores que defenderam suas dissertações são Odorico Xamatari Hayata Yanomami; Edinho Yanomami Yarimina Xamatari; e Modesto Yanomami Xamatari Amaroko. Oriundos do município de Santa Isabel do Rio Negro (a 631 quilômetros de Manaus), no alto do Rio Negro, eles têm graduação pela UFAM em Licenciatura Indígena – Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável – Yanomami, além de atuarem como professores do ensino básico em dois dos Xaponos (casa coletiva Yanomami), localizados no Rio Marauiá. Em suas comunidades, eles exercem uma forma de liderança, construindo pontes entre o saber tradicional e a formação escolar.
O ingresso no PPGSCA aconteceu em 2023, através de uma turma ofertada fora da sede em São Gabriel da Cachoeira (a 852 quilômetros da capital). Com o apoio da UFAM, articulado à concessão de bolsas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), os mestrandos desenvolveram pesquisas focadas na ancestralidade de seu povo, abordando temas como música, cantorias, rituais xamânicos e ensino da língua materna Yanomami às crianças.
Com informações e fotos da assessoria